"Não havia ali senão sonhadores, e essa evidência, que saltava aos olhos, produzia sobre os nervos uma impressão tanto mais viva porque esse devaneio dava à maioria daqueles homens um ar de doentes morosos. A maioria, rabugentos e taciturnos até o ódio, não gostava de expor à luz do dia suas esperanças. Desprezavam a ingenuidade e a franqueza; o sonhador percebia que suas esperanças tocavam às raias do inacessível, mas não lograva renunciar a elas; sepultava-as no mais profundo receso de si mesmo com uma teimosia e um pudor ferozes. Talvez se envergonhassem delas. Quem sabe lá?".
In: Recordação da Casa dos Mortos