terça-feira, 31 de agosto de 2010

Michel Foucault

Assim, de Hegel a Marx e a Spengler, desenvolveu-se o tema de um pensamento que, pelo movimento em que se realiza – totalidade alcançada, retomada violenta no extremo despojamento, declínio solar – curva-se sobre si mesmo, ilumina sua própria plenitude, fecha seu círculo, reencontra-se em todas as figuras estranhas de sua odisséia e aceita desaparecer nesse mesmo oceano donde emanara; em oposição a esse retorno que ainda não seja feliz é perfeito, delineia-se a experiência de Hölderlin, de Nietzsche e Heidegger, em que o retorno só se dá no extremo recuo da origem – lá onde os deuses se evadiram, onde cresce o deserto, onde a tékhnê instalou a denominação de sua vontade; de maneira que não se trata aí de um fechamento nem de uma curva, mas antes dessa brecha incessante que libera a origem na medida mesma de seu recuou; o extremo é então o mais próximo.


In: As Palavras e as Coisas

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Soren Kierkegaard

A história celebrará os grandes homens, mas cada um foi grande pelo objeto de sua esperança: um engrandeceu-se na esperança de atingir o possível; um outro na esperança das coisas eternas – mas aquele que quis alcançar o impossível foi, de todos, o maior.




In: Temor e Tremor

 
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Dante Alighieri

A tarefa própria do gênero humano, tomado na totalidade, é de pôr continuamente em ato toda a potência do intelecto possível, em vista, primeiro, da especulação, em vista da prática, e por via de conseqüência, depois.


In: Monarquia

 
 
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Friedrich Nietzsche

Após esclarecida, determinada coisa deixa de nos interessar. O que queria dizer aquele deus ao aconselhar: “Conhece-te a ti mesmo!”? Significaria: “Deixa de te interessares por ti! Torna-te objetivo!”? E Sócrates? E o “homem científico”?


In: Para Além do Bem e do Mal

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Walter Benjamin

Börne enxergava com os olhos de Baudelaire ao escrever: “Se se poupasse toda a força e a paixão que todo ano se desperdiça na Europa ao redor das mesas de jogo, isso seria suficiente para fazer um povo romano e uma história romana. Mas é assim: visto que todo homem nasce romano, a sociedade burguesa trata de desromanizá-lo, e com essa finalidade são introduzidos os jogos de azar, e de salão, os romances, as óperas italianas e as revistas elegantes”.


In: Sobre alguns temas em Baudelaire

Georges Duhamel

[O cinema] trata-se de uma diversão de párias, um passatempo para analfabetos, de pessoas miseráveis, aturdidas por seu trabalho e suas preocupações... um espetáculo que não requer nenhum esforço, que não pressupõe nenhuma implicação de ideias, não levanta nenhuma indagação, que não aborda seriamente qualquer problema, não ilumina paixão alguma, não desperta nenhuma luz no fundo dos corações, que não excita qualquer esperança a não ser aquela, ridícula de, um dia, virar star em Los Angeles.


In: Cenas da vida futura

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

William Blake

Onde o homem não está, a natureza é estéril. A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada. É suficiente! ou Basta.

In: Provérbios do Inferno

Kóstas Ouránis

Hei de morrer numa tarde melancólica de outono, entre móveis estrangeiros, entre livros espalhados. Vão achar-me no leito: virá a polícia depois. Um homem sem história: assim eu serei sepultado.


In: Nostalgias

domingo, 8 de agosto de 2010

T. S. Eliot

Não sou nenhum profeta - e isso pouco importa; já vi tremer o meu instante de esplendor e vi o eterno lacaio agarrar-me a casaca, rindo sorrateiro, e bastará dizer que tive medo. E tinha valido a pena, depois de tudo isto, depois da geléia, das xícaras, do chá, entre porcelanas, a meio de qualquer conversa de nós dois, tinha valido a pena.


In: A canção de amor de J. Alfred Prufrock

Walt Whitman

Existo como sou, isso me basta: ninguém no mundo toma conhecimento, eu me sento contente;  e se cada um e todos tomam conhecimento, eu contente me sento.

In: Folhas das folhas de relva.

sábado, 31 de julho de 2010

Friedrich Nietzsche

Moderação na atividade – É preciso não querer fazer mais do que o nosso pai. Isso nos torna doentes.



In: A Gaia Ciência

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Arthur Schopenhauer

Também contribui para o tormento de nossa existência, e não pouco, o impelir do tempo, impedindo-nos de tomar fôlego, perseguindo todos qual algoz de açoite. Somente não o faz com aquele que se entregou ao tédio.



In: Parerga e Paralipomena



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domingo, 25 de julho de 2010

Friedrich von Schelling

Pode-se sem dúvida dizer: o Deus se entrega a esse vir-a-ser justamente para se por como tal, e isso é, sem dúvida, que se tem de dizer. Mas, assim que isto é enunciado, compreende-se também que, nesse caso, ou se tem de admitir um tempo em que Deus não era como tal (mas isso a consciência religiosa universal, mais uma vez, contradiz), ou se nega que jamais um tal tempo tenha sido, isto é, aquele movimento, aquele acontecer é explicado como um acontecer eterno. Mas um acontecer eterno não é um acontecer. Consequentemente, a representação inteira daquele processo e daquele movimento é ela mesma ilusória, e propriamente não aconteceu nada, tudo se passou somente no pensamento, e esse movimento inteiro era propriamente apenas um movimento do pensar.




In: História da filosofia moderna: Hegel.

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Leon Tostoi

Então vocês pretendem que o homem não pode compreender por si mesmo o que é o bem e o que é mal; que tudo depende do meio, que o meio abafa... Pois, na minha opinião, tudo depende do acaso.



In: Depois do baile

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Rudolf Carnap

Talvez a música seja a mais pura forma de expressão das atitudes básicas porque ela é totalmente livre de qualquer referência aos objetos. A atitude ou sentimento harmonioso, que os metafísicos tentam expressar num sistema monístico, é mais claramente expresso na música de Mozart. E quando um metafísico dá expressão verbal à sua atitude heróico-dualística através da vida num sistema dualístico, não é por que lhe falta a habilidade de um Beethoven para expressar esta atitude num meio adequado? Metafísicos são músicos sem a habilidade musical.




In: Eliminação da metafísica através da análise lógica da linguagem

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E. M. Cioran

O que irrita no desespero é sua legitimidade, sua evidência, sua “documentação”: é pura reportagem. Observe, ao contrário, a esperança, sua generosidade no erro, sua mania de fantasiar, sua repulsa ao acontecimento: uma aberração, uma ficção. E é nessa aberração que reside a vida e dessa ficção que ela se alimenta.

In: Silogismos da amargura


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sábado, 10 de julho de 2010

Gottfried Leibniz

Nós próprios experienciamos um estado em que não nos recordamos de nada, nem temos qualquer percepção distinta, como quando caímos em delíquio ou ficamos prostrados num sono profundo e sem sonho. Neste estado a alma não difere sensivelmente de uma simples Mônada; porém, como este estado não é duradouro e a alma dele se liberta, ela é alguma coisa mais.



In: A Monadologia.

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segunda-feira, 5 de julho de 2010

James Joyce

Bloom: Sou pela reforma da moral municipal e dos dez mandamentos puros. Novos mundos para os velhos. União de todos, o judeu, o muçulmano e o gentio. Três acres e uma vaca para cada filho natural. Coches-fúnebres-salão a motor. Trabalho manual compulsório para todos. Todos os parques públicos abertos dia e noite. Lava-louças elétricos. Tuberculose, aluação, guerra e mendicância devem cessar já. Anistia geral, carnaval semanal, licença de uso de máscaras, abonos para todos, esperanto e fraternidade universal. Não mais patriotismo de mama-bares e impostores hidrópicos. Dinheiro livre, amor livre e uma igreja laica livre num estado laico livre.


In: Ulisses.

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sábado, 26 de junho de 2010

José Ortega Y Gasset

[...] o homem é a insuficiência vivente, o homem necessita saber, perceber desesperadamente que ignora. É isto o que convém analisar. Por que ao homem lhe dói sua ignorância, como podia doer-lhe um membro que nunca houvera tido?

In: Que é Filosofia?


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Heráclito

Guerra é pai de todas as coisas e de todos rei; uns aponta como deuses, outros como homens; uns faz escravos, outros livres.


In: Fragmento 53.


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Marco Aurélio

Deves sempre lembrar qual a natureza do universo, qual a minha, qual a relação entre esta e aquela, qual parte sou de qual universo e que ninguém te impede de fazer e dizer o que é consequência da natureza de que és parte.

In: Meditações.

 
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Albert Camus

"[...] o que ele exige de si mesmo é viver somente com o que sabe, arranjar-se com o que existe e não fazer intervir nada que não seja certo. Respondem-lhe que nada o é. Mas esta, pelo menos, é uma certeza. É dela que ele precisa: quer saber se é possível viver sem apelação".

In: O Mito de Sísifo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sigmund Freud

A derivação das necessidades religiosas, a partir do desamparo do bebê e do anseio pelo pai que aquela necessidade desperta, parece-me incontrovertível, desde que, em particular, o sentimento não seja simplesmente prolongado a partir dos dias da infância, mas permanentemente sustentado pelo medo do poder superior do Destino.


In: O Mal-Estar na Civilização

Friedrich Nietzsche

O verme se retrai quando é pisado. Isso indica sabedoria. Dessa forma ele reduz a chance de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: a humildade.


In: Crepúsculo dos Ídolos

domingo, 6 de junho de 2010

Fiódor Dostoiévski

"Não havia ali senão sonhadores, e essa evidência, que saltava  aos olhos, produzia sobre os nervos uma impressão tanto mais viva porque esse devaneio dava à maioria daqueles homens  um ar de doentes morosos. A maioria, rabugentos e taciturnos até o ódio, não gostava de expor à luz  do dia suas esperanças. Desprezavam a ingenuidade e a franqueza; o sonhador percebia que suas esperanças tocavam às raias do inacessível, mas não lograva renunciar a elas; sepultava-as no mais profundo receso de si mesmo com uma teimosia e um pudor ferozes. Talvez se envergonhassem delas. Quem sabe lá?".

In:  Recordação da Casa dos Mortos

Sêneca

"O sábio não precisa dar um passo tímido ou vacilante: sua fé em si mesmo é tão grande que ele não hesita em se dirigir ao encontro da fortuna, diante da qual jamais cederá. Não há nenhuma razão para temê-la".

In: Da tranquilidade da alma

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Theodor Adorno

“[...] o mais conhecido é o mais famoso, e tem mais sucesso. Consequentemente, é gravado e ouvido sempre mais, e com isso se torna cada vez mais conhecido”.

In: O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição

Rainer Maria Rilke

"Quem nos desviou assim, para que tivéssemos um ar de despedida em tudo que fazemos? Como aquele que partindo se detém na última colina para contemplar o vale na distância - e ainda uma vez se volta hesitante, e aguarda - assim vivemos nós, numa incessante despedida".

In: Elegias de Duíno

terça-feira, 25 de maio de 2010

H. P. Lovecraft

"Frequentemente imagino se a maioria da humanidade algum dia parou para refletir sobre o significado ocasionalmente titânico dos sonhos e do obscuro mundo a que pertencem. Embora a maioria de nossas visões noturnas talvez não passe de pálidos e fantásticos reflexos de nossas experiências em estado de vigília - ao contrário do que diz Freud com seu pueril simbolismo -, resta ainda um certo resíduo cujo caráter etéreo e invulgar não permite nenhuma interpretação comum, e cujo efeito vagamente excitante e inquietador sugere possíveis vislumbres momentâneos de uma esfera da existência mental não menos importante que a existência física, embora separada desta por uma barreira quase intransponível".

In: Além da barreira do sono

Ludwig Wittgenstein

"A filosofia delimita o domínio contestável das ciências naturais. Deve delimitar o pensável e com isso o impensável. Deve dermarcar o impensável do interior por meio do pensável. Denotará o indizível, representando claramente o dizível. Tudo em geral o que pode ser pensado o pode claramente. Tudo o que se deixa exprimir, deixa-se claramente"

In: Tractatus-Logico-Philosophicus

terça-feira, 18 de maio de 2010

Martin Heidegger

“Quando nós dizemos a palavra 'destino' do ser, então queremos dizer que o ser se nos atribui e se aclara e clarificante arruma o tempo-espaço, onde o ente pode aparecer. No destino do ser, a história do ser não é pensada a partir de um acontecer, que é caracterizado através de uma evolução e de um processo. Pelo contrário, define-se a essência da história a partir do destino do ser, a partir do ser enquanto destino, a partir daquilo que se nos remete, ao retirar-se. Ambos, remeter-se e retirar-se, são um e o mesmo. Não de duas maneiras distintas. Em ambos rege de um modo diferente o perdurar mencionado anteriormente, em ambos, isto é, também na retirada, aqui até ainda mais essencialmente. O termo destino do ser não é uma resposta, mas uma pergunta, entre outras a pergunta pela essência da história, na medida em que nós pensamos a história enquanto ser e a essência a partir do ser

In: O Princípio do Fundamento                                             

Henry Miller

"A mente é tudo. Deus é tudo. E daí?"

                                                              In: Nexus

Níkos Kazantzákis

"Eu te agradeço, Deus, o insaciável coração que me deste: ele festeja tudo sobre a terra e não se apega a nada"

                                            In: Da Odisséia

Friedrich Nietzsche

"O homem livre é não-ético, porque em tudo quer depender de si e não de uma tradição: em todos os estados primitivos da humanidade, 'mau'  significa o mesmo que 'individual', 'livre', 'arbitrário', 'inusitado', 'imprevisto', 'incalculável'. Sempre medido pela medida de tais estados: se uma ação é feita, não porque a tradição manda, mas por outros motivos (por exemplo, pela utilidade individual), e até mesmo pelos próprios motivos que outrora fundamentaram a tradição, ela é dita não-ética e assim é sentida até mesmo por seu agente: pois não foi feita por obediência à tradição".

                                                                                               In: Aurora

Fraz Kafka

"Não precisa sair de seu quarto. Permaneça sentado à sua mesa e escute. Nem mesmo escute, simplesmente espere. Ou sequer espere, fique completamente imóvel e solitário. O mundo espontaneamente oferecer-se-á a você para ser desmascarado; não tem outra escolha, rolará aos seus pés completamente extasiado".

                                              In: A Muralha da China